Quando eu for muito velhinha... E tu fores muito velhinho... Eu vou fazer questão que ainda nos amemos... exactamente com a mesma intensidade de agora! ...
Houve tempos em que quase caí do alto do céu…por ti. Em que tudo e nada que se nos opusesse…era alvo a atingir. Houve tempos em que percebi a razão de todos os números e todas as letras… e fiz desses caracteres o grande sentido de mim. Houve tempos em que levantava os olhos e seguia em frente… Semeando a inveja da minha felicidade. Houve tempos em que fui esplêndida… Imprescindível… Nativa… encantadora… e… essencialmente o verdadeiro sentido da vida. Ainda bem. Porque foi com esses tempos que me fiz tão brilhante… Como a imagem que revejo todos os dias ao meu espelho. Obrigada.
Se estivesses no fundo da minha rua… eu corria para ti e envolvia-te sem pressas… no meu corpo ainda quente do teu último abraço… Mas, sempre que olho o fundo da minha rua… não é a ti que vejo… são apenas as lembranças dum tempo que não volta… e aí eu choro… e não sei se pela teimosia em te rever… se de raiva por te ter deixado sair… do fundo da minha rua!
Eu já não sou o que fizeste de mim… Já não estou no sitio onde me deixaste… Parti… Envolta nos teus ensinamentos… Revestida do que suguei de ti… Feliz e amargurada… Pelo que tive e pelo que nunca cheguei a ter. E carreguei-te em cada poro… E o meu pensamento, tantas vezes toldado pelos teus olhos… Lutava contra a memória do teu rosto… …… Se cheguei a bom porto? …… Sim… Como que renascida!
Podes passar entre milhares, reduzir o teu corpo a mais um corpo, vestires de novo esse olhar de fugitivo… E pensares que não estás, onde vives cada vez mais presente… Porque, mesmo que te dispas desse aroma a frutos frescos… Desse sabor agridoce… Dessas mãos sedentas de amor… E desse toque de rebeldia atroz… Eu vou voltar a viver-te… A sorver-te… A absorver-te… E a ter-te como nunca… Mesmo que tu aches que mais ninguém te sente!
Eu gostava que tirasses essa máscara… Que voltasses a ser o meu menino de outrora… Quando dormias nos meus braços… E esquecias o mundo. Chamavas-me feiticeira e eu acreditava. Choravas emocionado… Ao contemplar o meu ar sereno…durante o sono. Fazias-me sonhar. Levavas contigo o meu corpo e a minha alma… E eu deixava. Achava que assim me tinhas sempre e para sempre. Eu gostava que tirasses essa máscara de agora… Para eu te poder reconhecer! Sempre… E para sempre…!
Não precisas vir. Sei-te de cor. Adivinho cada passo… Cada investida tua… O teu cheiro é o meu cheiro… Os teus olhos dizem o mesmo que os meus… Cada gesto, Cada passo, Cada dedilhar teu… Simples e comum, Faz vibrar sem pudor, A parte de mim que te chama… Não precisas vir…
Quando penso que tudo acabou… Que nada mais em mim me resta em tua honra… Que o cansaço pela espera me derrubou a vontade, O sabor, E a ligeireza com que corria ao teu encontro… Há qualquer coisa em mim… Que me desperta, Me percorre, E me acorda dessa letargia… Com que pautei a minha vida à tua espera!
Era sempre assim que me amavas… Tocavas e entravas… Sabia quando chegavas… E… inocentemente deixava… que me invadisses…me explodisses…me abraçasses… E… me provocasses a ânsia que reprimias… A boca que me calavas… O corpo que me agarravas… E deixavas que eu gritasse… Inundada de desejo… E paravas… Te afastavas… Para que eu, Nesse preciso momento… Fechasse os olhos… E soubesse… Que de amor…se pode morrer!
Por isso…danças comigo. E é nesse teu deslizar sobre o meu corpo… Que eu traduzo os teus passos, A tua vontade, Os teus sinais prementes de fuga… E de mão na mão… Levas-me para onde mais ninguém sabe… Em segredo, Para uma redescoberta desenfreada… Que nunca cansa nem acaba… E danças de novo comigo… Desta vez… Leve … E livre … Ouvindo apenas o teu sussurro!