Wednesday, November 30, 2005

FOTO 1

Lembro-me bem do meu primeiro ferimento a sério...aliás ele ainda reside na minha face direita, apesar de quase imperceptível, devido ao passar dos anos.
Era o dia de matricular o meu irmão "acima", na escola primária.
Naquele tempo, a minha vila parecia uma aldeia e os lugares onde hoje crescem torres de cimento bem alinhadas (como as couves e as alfaces), estavam livres e separados por cercas de arame farpado.
Quando voltávamos para casa, a minha mãe permitiu que eu corresse atrás dos meus irmãos. Eles saltaram o arame e eu, como me achava ainda uma miniatura, pensei que estaria liberta desse exercício físico suplementar e resolvi aventurar-me nessa corrida, sem medos nem cuidados.
Mas o arame não teve contemplações com esse meu primeiro devaneio.
No hospital, aguentei firme e engoli todas as lágrimas que consegui.
"Afinal essa coisa de se ser corajoso, com tão pouca idade, nem sempre corre bem..."
No regresso, vinha feliz.
Trazia uma história para contar.
E tinha vencido um medo.

Monday, November 28, 2005

A minha fotografia

Aparentemente, nada há de especial em possuir apenas uma foto da minha fase primária...
A não ser o facto relevante de hoje me encontrar com quarenta anos de idade e querer conhecer melhor a criança que teima em viver e sobreviver, dentro de mim...
Talvez a sequência de imagens em papel, habitualmente guardadas por qualquer mortal, me ajudasse a decifrar a outra face das minhas expressões de infância.
Terei de recorrer às economias que reservo da minha memória, para percorrer os caminhos do meu passado e voltar a encontrar-me...
E se o alvo a atingir se tornar uma bola de neve e eu não a conseguir parar?
E se essa minha necessidade de voltar atrás me fizer reviver mágoas, até hoje habilmente recalcadas e esquecidas, na tentativa de me proteger?
Confesso que é um risco...este meu regresso ao passado!
Mas assumo-o demasiado tentador...

Por muitos suplementos de memória que possua, não vai ser possivel reportar-me aos primeiros dias de vida, como é óbvio, sem me apoiar no que ouvi contar...
"Quando nasceste, vivíamos numa casa sem portas..."
Esta frase faz-me sempre sorrir.
Pois fui a última de sete irmãos e não deve ter sido tarefa fácil controlar uma data de crianças a brincar às escondidas entre as cortinas, enquanto a irmã mais nova nascia.
Mães e mulheres-coragem...as de antigamente.
E foi nesse ambiente de risos e ruídos concentrados de crianças, num misto de ansiedade, curiosidade e inocência...que fiz a minha aparição no mundo.
Quando completei um ano de idade, os meus pais resolveram alugar uma casa enorme, no centro da vila, com muitas portas e janelas.
E foi nessa casa que vivi...até ao dia em que parti em busca de mim.
Mas isso foi muito mais tarde...
Por vezes, sou surpreendida com lembranças, cores e cheiros tão familiares e tão remotos que me levam a "viajar" nesse tempo que passou...mas que ainda é tão sómente meu.

E vai ser, nesta recolha selectiva de memória, que tenciono começar a minha viagem no tempo...

Wednesday, October 26, 2005

Friday, September 23, 2005

Amanhecer....em ti.














V
ale a pena começar...
mais um amanhecer...
em ti!

Sunday, September 18, 2005

À minha amiga Ana




















Quando à noite fecho os olhos
acentuo a escuridão
desisto da luz dos outros
desço ao nível mais profundo
e afundo
onde não há Bem
nem Mal
mergulho em águas negras, perturbadas
e saio pura e fresca
cor cristal.

Maria Teresa Meireles

Wednesday, September 14, 2005

AO MEU PAI
















Parabéns pelos teus 90 anos...

Acredito que repousas num sítio assim...porque o mereces.

Amo-te paizinho.

Friday, September 02, 2005

À avó que nunca tive...

A avó, vista por uma menina de 8 anos

"Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros. As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali. Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas. Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos. Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior. As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes. As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo. Não são tão fracas como dizem, apesar de morreram mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, principalmente se não tiver televisão."

(recebido por mail)

Mas regressei assim: Diferente entre iguais

Tuesday, April 26, 2005

Friday, March 04, 2005

Eu amo

"Eu amo o teu gravador de chamadas.
Ele não me abandona
e repete vezes sem conta
a tua voz."

Pedro Mexia

Monday, February 28, 2005

Não gosto de...




Segunda-feira...
acordar cedo...
horários a cumprir...
de esperar em fila...
de me vestir de amarelo...
do Carnaval...
de despedidas...
de cheiro a álcool...
de chorar...
de hipocrisia...
da saudade...
do vulgar...
de futebol...
de gente lenta...
falsos moralistas...
de esperar...
de surpresas...
de errar...
de perfumes doces...
de perder o controle...
e, principalmente...
de morrer de véspera!

Tuesday, February 22, 2005

Delírio


Alfonso Izco



Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...


Olavo Bilac

Thursday, February 17, 2005

Pérola




É preciso abrir muitas conchas...para encontrar uma pérola.

Tuesday, February 15, 2005

Anything




Seja um beijo,um chocolate ou uma palavra carinhosa, qualquer coisa, já me deixa feliz.

Monday, February 14, 2005

Sunday, February 13, 2005

O Pássaro Azul (1940)




Há muito tempo, na sessão de Domingo-à-tarde, vi algumas vezes este filme.
Era uma fábula.
A menina que se chamava Mytyl e o seu irmão Tytyl ficam sós em casa, depois de o pai ter ido para a guerra combater o Napoleão.
Uma noite, Mytyl recebe a visita da fada Berylune que os manda, juntamente com o seu gato e cão, transformados em humanos, em busca do pássaro azul da felicidade através do passado, do presente e do futuro. Depois de uma longa aventura, voltando para casa, Mytyl descobre que o pássaro azul da felicidade era aquele em sua gaiola, que ela tinha capturado no início da história. O grupo procurou por algo que esteve sempre dentro da sua própria casa.
É uma viagem de amadurecimento; a expedição dá voltas, passa por terras encantadas, a equipe tem dificuldades, mas os meninos regressam capazes de compreender melhor o que já existia.
E entender que muito do que se deseja está presente, esperando apenas ser notado.

...

Hoje...
e porque também é Domigo à tarde, lembrei-me desta menina e da companhia que me fez durante muitas tardes da minha infância...
Enroscava-me no sofá vermelho e sentia-me feliz ...
pelo filme...
pela minha inocência...
pelo chocolate quente...
pelos biscoitos de laranja e...
pelas gargalhadas soltas da minha mãe...!

Wednesday, February 09, 2005

Abismo



Entre o teu corpo e o meu desejo dele
'Stá o abismo de seres consciente;
Pudesse-te eu amar sem que existisses
E possuir-te sem que ali estivesses!

Fernando Pessoa

Tuesday, February 08, 2005

Busca antecipada




Aqui vou eu na busca antecipada dos cinco quilos que vou perder...
nos próximos quinze dias...
(se não sou eu a convencer-me, quem me convence?)

My last day




MY DIET WILL BEGIN TOMORROW...
HOPE YOU BELIEVE IT .....
'CAUSE I DON'T........................................................ ;)

Thursday, February 03, 2005

Friday, January 28, 2005

Até amanhã, camaradas




Políticas à parte, o filme transformado em mini série que hoje e amanhã tem honras de prime-time na SIC, vai surpreender muita gente.
Não deixem de ver.
São seis horas, três por dia, de transcrição para televisão do livro Até amanhã, camaradas, de Manuel Tiago.
Eu já tenho as pipocas a fazer e na minha cadeira ninguém se senta.
Bom filme.

Wednesday, January 26, 2005

Tuesday, January 25, 2005

Regresso ao lar




Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta? Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para me lembrar!

Dei a Volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! A ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago d'amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saira do meu ninho estreito!...
Minha velha ama que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d'astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!

Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh'alma tenha paz, descanso,
Quanto a Morte, em breve, me vier buscar!...

Guerra Junqueiro


Monday, January 24, 2005

EGOISTA



Esta foi a capa da Revista Egoista de Dezembro de 2002.
Hoje comprei a edição de Dezembro de 2004, dedicada às crianças.
Na primeira página traz a seguinte mensagem:

"Seja criança outra vez,
puxe pela imaginação e pinte a sua capa. Boa sorte.
P.S. - Não use só uma cor, seja ousado."

Assim sendo...talvez faça uma brincadeira gira nessa capa...e um dia vos mostre.
Até lá...deixo-vos uma frase linda que lá encontrei:

"Eu sou do tamanho do que escrevo."

Fernando Pessoa, futuro escritor e poeta aos 14 anos

Friday, January 21, 2005

Entre céu e terra




"...Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espectáculo do mundo...".


Carlos Drummond de Andrade

Thursday, January 20, 2005

Em tuas mãos





"...Em tuas mãos obreiras nascem flores.
Em teu sexo germinam alvoradas.
Manhãs de Outono sem clarões de espadas
riso, perfumes, cores...."


Daniel Filipe


Tuesday, January 18, 2005

Será desta vez que eu vou ter um Moleskine?



"...Foram postos a circular pelo mundo 13 "notebooks" (até agora), devidamente numerados e identificados, que vão passando de mão em mão. Cada pessoa tem uma página para escrever ou desenhar o que quiser e dentro de uma semana deve enviá-lo para a próxima pessoa na lista.
Joy Rothke, uma americana de 52 anos a viver na Costa Rica, está encarregue de manter organizada essa lista, que já inclui pessoas de todas as partes do mundo, incluindo Portugal. No futuro, esperam poder fazer uma exposição itinerante com os "moleskines" usados.
Quem quiser participar na iniciativa só tem que consultar o "site" http://www.moleskinerie.com".


Revista ÚNICA do semanário O Expresso de 15/01/2005

A Psicologia da cor

O mais importante da simbologia da cor é que ela não é ligada à racionalidade do homem. Um exemplo clássico, que é dado pelos defensores da influência cultural na racionalidade da simbologia das cores, é a diferença de interpretação da morte pelos orientais. Nós a simbolizamos com o preto, enquanto os orientais a simbolizam com o branco. Se formos analisar esse exemplo em profundidade, veremos que ele cai por terra, quando vemos a interpretação radicalmente oposta que cada povo dá a morte. O preto e o branco, para ambas as culturas continuam simbolizando as mesmas coisas, a morte é que é vista de modo diferente.

Algumas características qualitativas e materiais das cores:
  • AZUL: Pureza, frieza, inteligência, limpeza, organização, simplicidade, infinito, o céu, a água e o gelo.
  • VERDE: Perseverança, saúde, naturalidade, limpeza, juventude e natureza.
  • AMARELO: Versatilidade, vivacidade e o sol.
  • VERMELHO: Energia, potência, sensualidade, força, vitalidade e riqueza.
  • VIOLETA: Misticismo, justiça, dignidade, requinte, delicadeza, magia e religião.
  • CINZA: Antiguidade, neutralidade, seriedade, sabedoria, passado e velhice.
  • MARROM: Receptividade, sensualidade, o outono, o lar e a família.
  • PRETO: Extinção, sordidez, maldade, opressividade, frigidez, seriedade, sobriedade, o fim, a noite, a sombra, a sujeira, o mal e a fronteira.
  • BRANCO: Pureza, inocência, beleza, luminosidade, simplicidade, limpeza, a paz e a alma.

E agora uma pequenina nota final:

Deixei de questionar a minha tendência benfiquista.....Porque será ?


Monday, January 17, 2005

From a land half of mine

A long time ago, when my life was almost there...I cried a lot with this letter...
Now...I'm sure that this child coulbe be mine...
Thank God.


"My Daddy is dead four weeks now, and that's a month. He died on Wednesday morning at half six. He was beaten up in August because he tried to stop them from burning the houses in our street. He was in the hospital four weeks before he died. My Daddy said to me when he was living, he said, "You'll grow up, you'll be a man like me.' He said because I bring dogs and cats into the house and so did he. He brought home fish and all.

"My Mommy said he died happy, because he died in his sleep. When the smoke started coming from the walls of our house, we ran out and down the entry. My budgie and frogs and my cat and hampster were burned in the house. This is the second time we were burned out.

"When the slates were cracking with the heat, we thought it was guns and we cut over into another entry and went to our Granny's house.

"My aunt gave me a dog. I call it Arco. I have a wishing well and I save up money in it. When I have three shillings, I'll buy a goldfish."

Letter from a Derry child


Saturday, January 15, 2005

O Anatomista





"... É de notar que deste orgão parece depender o amor da enferma, a sua disposição e vontade, e em virtude disto sou levado a supor que quem exercer o domínio desta pequena verga exercerá o domínio da sua disposição e da sua vontade, porquanto a enferma se comporta comigo como uma apaixonada, mostrando-se disposta a satisfazer todos os meus apetites. Esta espécie de entrega não depende de nenhum atributo que não seja o de saber esfregar com arte e acerto e conhecer as carnes sensíveis como a glande e a crista inferior da parte alongada..."

in O Anatomista, de Federico Andahazi

Monday, January 10, 2005

O melhor do mundo são as crianças...


Posted by Hello
"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças..."


Fernando Pessoa

Thursday, January 06, 2005

O meu pai

O meu pai era um homem puro,
nas palavras, nos sentimentos e em tudo o que fazia.
Mas eu não sabia.
Ao Domingo, levava-me pelo pulso, à missa das 11H.
Achava ele, que assim eu nunca fugiria.
Mas eu não sabia.
De regresso a casa, comprava-me sempre um "estica" na loja da D.Mimi e eu fazia com que ele durasse o caminho todo, para me adoçar a dor da sua mão forte e segura.
O meu pai tinha um cheiro neutro a banho fresco e isso marcava a sua ausência de vícios e definia o seu carácter.
Era firme como uma rocha.
E muito fiel às suas convicções.
A nossa referência de vida.
Muitas noites...
sonhava que ele me pegava no colo e me deixava sentir aquele odor, tão exclusivo, a "barba-sempre-feita".
Mas ele não sabia.
Nem nunca vai poder saber.

Monday, January 03, 2005

Assim



Quando eu era assim,
não te conhecia.
Mas já sabia...
que seria nos teus olhos que aprenderia...
que seria contigo que a lua me contaria...
ao ouvido...
os teus segredos meus,
com sabor a mel, sal e suor...
E o amor é assim.
Não tem ideia.
Mas escolhe a verdade e,
nos rouba o medo de sonhar.
E tudo,
sem receio nos vem...
e nos faz vir como um navio no mar.
Quando eu era assim...
ainda não sabia,
que serias o meu menino,
um dia!