Jasmim...

Leva-me contigo.

Não me deixes ficar só neste deserto antigo.

Abraça-me bem forte e diz-me que passou o perigo.

Que agora tudo está bem comigo!

Leva-me contigo.

Tenho medo de ter medo de mim.

Deixa-me ficar assim,

Presa ao teu cheiro de amor e jasmim!

Leva-me contigo.

Não amanhã, nem logo…nem depois.

Leva-me contigo agora.

Onde não exista mais ninguém.

Apenas nós os dois!

LC

Há

Há coisas que nem as estrelas nos contam.
Há sinais que nem um farol nos indica.
Há segredos que não passam de segredos.
Há olhares, sensações e pulsares que ultrapassam o nosso sentir.
Há momentos que por breves instantes…
se esvaem e não os conseguimos alcançar.
Há vidas, há gente, há amigos.
Há sítios mágicos.
Há magias sem lugar.
Há gritos de desespero por querer e não ter.
Há recusas inconscientes por ter e não querer.
Há o aqui e agora e o querer estar.
Há certezas que trazem dúvidas e dúvidas que teimam em ficar.
Há a alegria, há a felicidade,
Há o zangar e o não entender.
Há o conflito de ser e não ser.
Há o ficar. Há o partir.
E há quem nunca queira ir.
Há o dormir…e o acordar.
Há o hoje… e o amanhã.
Há o agora, sem demora
De te ter, de te reter,
E de te guardar!

LC

Regresso...

Um dia…

Quando a hora do balanço chegar…

Eu vou pedir a Deus que me dê um minuto…a olhar o mar.

Quero rever a minha vida…

Quero voltar a encaixar nela todos os momentos de mim…

Todos os amores que ganhei,

Todos os que perdi…

Todos os que ficaram até ao fim.


Um dia…

Quando essa hora do balanço chegar…

Não quero pensar no que não fiz, por medo…

No que evitei, por cobardia…

No que provoquei, por demasiada ousadia…

No que toquei e não devia…

No que deixei, erradamente, para trás…

Por teimosia.


Um dia…

Na hora desse balanço…

Quero sentir-me livre de tristezas,

saborear de novo as alegrias,

Voltar a amar quem amei...

esquecer a quem não perdoei...

sentir o sabor dos lábios que beijei...

dos abraços que recebi...

das promessas de amor em que acreditei...

e pedir perdão a quem menti...


E vou encher o meu peito num só fôlego…

fechar os olhos lentamente,

abrir os braços para o céu

e dizer-te:

Obrigada meu amor... só a ti!


Agora já posso regressar ao mar,

onde nasci!

LC

O que senti quando as estrelas me inundaram os olhos de ti..

Muito para além daquele céu,
daquele cheiro a maresia,
do toque macio da areia que nos beijava os pés…

Muito para além das luzes da noite,
do cheiro inebriante a jasmim ardente,
do suave toque das chávenas de café quente,
da brisa leve que vinha do mar …

Muito para além do silêncio das ondas,
do sussurrar de casais enamorados,
do escuro da noite que não conseguia esconder…
O brilho do nosso olhar!

Muito para além do que estava para além…
Havias tu.
E o teu jeito-sem-jeito de ser,
O teu adivinhar do meu querer,
a tua ansiosa espera pelo meu gostar…
sem-jeito-de-jeito-de-ser.

Havias tu…
ali havias só tu.
E um não saber porquê de tanta coisa,
um pulsar desenfreado no meu peito,
um não querer acabar de tudo e nada,
um querer voltar àquele lugar,
logo, agora e sem demora,
de qualquer jeito.

Havias tu…
Porque àquela hora e naquele lugar…
Ninguém mais poderia lá estar!

LC

Hoje o meu coração falou…

Às vezes o nosso coração fica tão pequeno que nós pensamos que ele vai desaparecer…

Às vezes ele pula tão forte que pensamos que nos vai fugir…

Às vezes ele dói como se fosse um joelho magoado…

Às vezes, quando ele sossega junto dum colo amigo, pensamos que ele dorme…

Às vezes ele é grande…

Tão grande que temos a certeza de que vai salvar o mundo…

Às vezes ele não existe..quando somos crueis …

Às vezes ele não é nosso…

Às vezes nós o oferecemos…

Às vezes ele muda de cor e fica azul, roxo e lilãs quando a raiva é muito forte…

Mas tem algumas vezes

Que ele fica quente…

Cheio…

Tão cheio que parece que o nosso peito vai rebentar de alegria…

Hoje…quando “cuidaste” de mim e do meu “coração”…

Ele foi pela primeira vez uma coisa diferente…

Hoje o meu coração falou…

E disse ao teu…

”Vales ouro”…!

LC

Sabias que se pode fazer amor assim?...

Sabias que se pode fazer amor assim?...

Sem dois corpos nus…

Sem beijos trocados…

Sem dedos que correm e nos percorrem a pele…

Sem a fusão que cresce, decresce e explode…

Sem gemidos…

Sem cansaço nem agitação…

Sem receio da hora passar…

Sem suor…

Sem respiração ofegante…

Sem a calmaria do final…

Sem a pena de quem vai…

Sabias que se pode fazer amor assim…como hoje?

Com sorrisos,

Com gargalhadas de vida,

Com cumplicidade,

Com partilha de segredos…

Com recordações vividas…

Com misto de amigo…irmão…e mais-o-que-não-importa…

Com toque leve no rosto…

Com ligeiro rubor nas faces…

Com vontade de ficar,

Naquele abraço que demos,

Onde nos demoramos,

Para o trazer em pedacinhos…

E depois juntá-los…

Um a um…

Nas nossas noites de solidão…

Sabias que se pode fazer amor assim?

LC