Monday, October 18, 2004

Foto 2

Do outro lado da rua, numa casa em ruínas...
vivia uma velho...
a filha do velho...
a neta do velho...
um cão...
um gato...
uma árvore que se carregava de ameixas vermelhas uma vez por ano e...
uma porta enorme e pesada que se fechava com estrondo, sempre que eu me conseguia "escapulir" para lá.
Ninguém entendia o que me atraía ali.
Um dia o velho, a quem eu chamava avô por empréstimo, morreu.
Mas tudo o resto ficou igual, excepto a vontade de me refugiar lá que era cada vez maior.
A mãe era muito alegre e o cão e o gato conversavam com a dona.
A filha, sempre rodeada de presentes (oferecidos por um pai ausente), era uma menina triste...a quem faltava tudo e nada e a quem eu oferecia gratuitamente todos os sorrisos do dia.
De vez em quando a menina não me deixava brincar e eu fugia.
Só voltava com a promessa de finalmente ir ver o saco de brinquedos que existia por detrás duma porta velha de fechadura ferrugenta, por debaixo da escada.
Mas era apenas uma promessa.
Ainda me lembro da tristeza que senti quando a menina mudou de casa e abriram finalmente aquela porta mágica.
Eu já gostava tanto daquele saco!
Tinha imaginado, durante tanto o tempo, o sabor de tocar naqueles brinquedos, um por um...
Nesse dia chorei...
E hoje ainda não sei...
Se pela partida da menina...
Se por me terem "roubado" uma saco de "sonhos", que nunca tinha existido...

1 comment:

Blogger said...

O saco de sonhos existia. Existe sempre um saco de sonhos. Acontece que às vezes não chegamos verdadeiramente a dar com ele. Outras vezes não conseguimos abri-lo. Mas ele há-de lá estar, ainda, sempre, à espera que um dia o consigamos abrir.